Enfim, cenas!

Quando iniciamos os trabalhos de criação e improviso para o levantamento de material (como já falamos um pouco nesse post aqui!), a primeira consigna de trabalho era a criação de uma cena inspirada nos materiais de pesquisa que tínhamos levantado e discutida até o momento.

Outros pontos a serem considerados eram o público alvo – crianças e adolescentes, o “papel” – usado como tema e matéria prima e a criação de uma “curva dramática” em que o personagem principal, em algum momento, “transforma-se”!

As orientações para a criação eram bastante abertas e possíveis de serem absorvidas por cada ator criador de maneira bastante pessoal. Nossa intenção era começar a entender o universo de referências de cada participante.

Essa proposta foi feita antes dos estudos de personagem em papel, já postados anteriormente, mas nos demos conta de que esse trabalho era bastante complexo. Então, ao invés de apressarmos a finalização dele, deixamos que fosse amadurecendo e passando por várias etapas de ensaio, conversas e preparação.

O fato é que, mesmo que as cenas sejam curtas e simples, envolveram todo um processo de conscientização sobre a criação de uma dramaturgia específica para esta linguagem. Noções sobre a triangulação (relação dos bonecos com o espectador) e também a linguagem específica do vídeo.

Nos vídeos abaixo vocês poderão ver a primeira e a última (até o momento) versão desse trabalho de uma das participantes. A ideia de estabelecer essa comparação tem mais a ver com nossa necessidade de compreender, principalmente, a criação dos ‘detalhes’ no trabalho de animação. Detalhes estes que resultam na manipulação do ritmo da cena, desenvolvimento de dramaturgia e limpeza de movimentos e ações.

É importante frisar que os materiais criados em quarentena não são ainda a dramaturgia do espetáculo que estamos desenvolvendo. São materiais utilizados como disparadores para discutirmos questões técnicas de manipulação, dramaturgia e autonomia criativa.

Primeira versão da cena
Versão mais recente do vídeo, já batizada de “Dig Tac”

Segue também um depoimento de Sabrina Antunes Francez, atriz manipuladora criadora deste experimento:

“A ideia inicial era uma luva de plástico preenchida com papéis. Logo, assisti o vídeo de Jordi Bertran (vídeo abaixo), com um boneco de espuma, que me inspirou pra fazer um boneco palito de fita colada em uma luva. Eu o chamei de Tac. Peguei minha máquina de escrever e o abajur e fui tentar criar jogos pra desenvolver alguma história. Minha ideia era que a luz fosse sacana com o Tac, mas chegou um momento que não tinha mais ideia com a luz e achei que precisava de um outro personagem. Nisso surgiu o Dig, para acrescentar outros momentos na dramaturgia.

(…) No inicio, o boneco era neutro, sem nenhuma expressão. Foi preciso desenhar um óculos para me auxiliar a encontrar o foco e saber pra onde ele estava olhando. Tive que apurar a noção de espaço, cuidar nas rotações (pois uma rotação poderia fazer o boneco perder a metade do seu corpo), fazer as micro ações de cada passo.

A respiração do boneco estava muito ligada com a minha, quando ele respirava fundo automaticamente eu também respirava, quando ele ficava zangado eu franzia a testa. Fui entendendo que o boneco reagia às situações e eu reagia com o  boneco.

No primeiro vídeo, Tac já digitava freneticamente. Nem dava pra saber quem era esse personagem. Foi preciso fazer uma entrada e saber o que esse personagem estava fazendo ali. O Dig não aparecia, era só uma voz que não dava pra entender de qual personagem era. Nos primeiros vídeos, eu resolvia as situações e não passava por elas. O Tac precisava de acúmulo e aí surgiam sensações de alegria, raiva e variações de ritmo.

Na manipulação, sentia dores e fui descobrindo posições  e movimentos do corpo que, além de deixar meu corpo mais confortável, facilitava a manipulação o boneco. Tive muita dificuldade em manipular dois bonecos ao mesmo tempo. Foi preciso exercícios e ensaios só pra treinar o movimento desse dois bonecos em ritmos diferentes.

Durante esse processo, foi preciso entender quais as coisas que faziam sentido na perspectiva do boneco e não da manipuladora. E pensar como entreter uma criança me fez lembrar muito da minha infância. Isso foi a melhor coisa desse processo.”

Cia. Jordi Bertan, uma das inspirações de Sabrina

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Projeto Montagem de Espetáculo Infanto-Juvenil
Proponente: Denise da Luz MEI

Ficha Técnica
Direção e dramaturgia: Max Reinert
Atuação: Denise da Luz, Sabrina Francez e Matheus Groszewica
Músico em cena: Leonam Nagel
Ambientação sonora: Hedra Rockenbach
Figurinos: Denise da Luz
Designer gráfico: Daniel Olivetto
Assessoria de imprensa: Camila Gonçalves
Produção: Téspis Cia. de Teatro

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