No post de hoje temos um depoimento escrito por Matheus Groszewica, sobre sua visão do processo de montagem do espetáculo até o momento em que nos encontramos. E lá no final, duas versões de sua cena, cujo título é este aí de cima: Um Olho Aqui e Outro Acolá!
“ao escrever esse texto voltei à fevereiro, quando começamos a nos reunir presencialmente para ensaiar. estávamos a todo vapor: quatro ensaios por semana, textos para discutir, vídeos para analisar, busca por referências e inspirações. uma energia de início, um fervor diante do novo processo. após um mês de exercícios psicofísicos e com máscaras neutras, iniciamos o processo criativo (no sentido de estruturar e começar a pensar dramaturgia). no primeiro dia de ensaio conversamos sobre a necessidade que poderia surgir de parar por enquanto, diante do crescimento de casos da COVID-19 no Brasil e no mundo. lembro de ir embora com um aperto no peito e uma sensação de que não voltaria tão cedo à Itajaí Criativa, nosso espaço físico de ensaios. um dia depois o isolamento foi decretado, e nos vimos obrigados a parar por um tempo os encontros presenciais.
foi um primeiro mês conturbado. alguns encontros por vídeo para manter os diálogos, onde surgiram as primeiras provocações para que déssemos continuidade ao material, isolados em casa, criando sozinhos por hora. então, iniciamos a confecção de bonecos de papel e a criação de dramaturgias a partir dos mesmos. era um novo contexto, criar e dar vida a eles, depois os manipular sozinhos. o Max (nosso diretor), depois de trabalharmos em uma pequena cena, sugeriu a confecção de novos bonecos, para encontrarmos outras possibilidades de criação e manipulação. passamos por alguns perrengues, desde lidar com o material muito frágil a necessidade de um espaço mais adequado. isso sem contar a nossa própria autossabotagem aliada à pandemia, e um sentimento confuso diante de um futuro completamente incerto (acho que não preciso mencionar nosso cenário político, né?).
a cena “um olho aqui e outro acolá” surgiu com uma ideia de ínicio: o nascimento desses bonecos em um mundo frágil e traiçoeiro. recortei vários papéis, comecei a amassar e modelar até tomar algumas formas. eis o primeiro vídeo! no princípio me deparei com questões de foco. eles não tinham um ponto fixo, deixando a leitura confusa. minhas mãos apareciam demais na cena, tive que remodelar alguns para conseguir uma melhor manipulação. os bonecos tinham pouca ou nenhuma diferença entre eles, de energia ou registros sonoros. o ritmo não andava, a cena não se desenvolvia. foi um processo lento, com ensaios virtuais e orientações do Max e da Denise.
toda semana uma gravação nova. aos poucos fui entendendo mais a fundo alguns conceitos, deixando meu corpo a favor dos bonecos, colocando a tensão em pontos específicos e me sentindo mais confortável com a linguagem. entendi que cada boneco necessita de pequenas ações que compõem uma ação maior. eles foram ganhando mais definição, linhas para aumentar a expressão, e com os ensaios surgiram novas ideias que foram compondo a dramaturgia. o mais difícil foi perceber as possibilidades que os bonecos oferecem, que são diferentes das do corpo, com o qual temos contato, é vivo, pensa e pulsa.
seguimos desenvolvendo e tentando nos adaptar, utilizando o privilégio de podermos estar em casa, “seguras” até certo ponto. acredito na potência do teatro, na construção de um trabalho poético, aliado a uma política de vida. nos levantamos, neste momento dentro de casa, com a força que conseguimos reunir, diante de tantas mortes e injustiças desse sistema falido e retrógrado, e continuamos criando, como quem diz: estamos vivas.”
Matheus Groszewica
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Projeto Montagem de Espetáculo Infanto-Juvenil
Proponente: Denise da Luz MEI
Ficha Técnica
Direção e dramaturgia: Max Reinert
Atuação: Denise da Luz, Sabrina Francez e Matheus Groszewica
Músico em cena: Leonam Nagel
Ambientação sonora: Hedra Rockenbach
Figurinos: Denise da Luz
Designer gráfico: Daniel Olivetto
Assessoria de imprensa: Camila Gonçalves
Produção: Téspis Cia. de Teatro
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